Meu Deus que atitude é esta?
Tenho grande dificuldade de comer carne (bovina) desde que eu era criança. Tinha mais ou menos oito anos quando isso aconteceu.Sempre passava as férias grandes no interior na fazenda da minha tia,irmã de minha mãe na cidade de Bagé.Quando chegávamos minha mãe ia visitar as irmãs que eram quatro,três moravam na cidade e a quarta morava na fazenda. Minha maior alegria era quando no outros dia íamos direto para a fazenda,junto às vezes ia minha tia que morava na cidade e mais minha vó,mãe da minha mãe,esta ia sempre.Lá as três irmãs e a mãe que não se viam seguido,ficavam altas horas da noite conversando.Muitas vezes fomos de carro da cidade de Rio Grande até Bagé.Para mim tudo era festa,mas para minha mãe não...Pois ela tinha medo de viajar tanto de carro como de onibus.De avião? Nem pensar! Mas isso são outras estórias...
Minha tia tinha quatro filhas duas com idade quase igual a minha,e as outras duas adolescentes. Quando nós chegávamos lá minhas primas estavam esperando na porteira dando boas vindas e os cachorros juntos sacudindo o rabo e saltitando de alegria. Como o carro vinha cheio de malas e coisas que trazíamos,uma entrava no carro e as outras corriam ao lado até chegarmos na casa da fazenda.
A fazenda para mim era enorme pois tinha muitos bois,vacas,cavalos,galinhas todos soltos no campo e mais um arroio límpido que ficava no fim da divisa,entre uma fazenda e outra e muito campo para cavalgar...
Eu que morava na cidade tudo que acontecia era novidade,quando chegava o entardecer as galinhas vinham chegando aos poucos e iam se empoleirando nas três figueiras que foram plantadas bem perto uma da outra.As galinhas de todas as cores pretas,vermelhas,carijós e brancas ficavam espremidas nas figueiras que me lembravam olhando de frente uma árvore de natal enfeitadas com galinhas,estas ainda fazendo aquele barulhinho... bem baixinho de galinha que vai dormir,cococó,cococó...
A vida na fazenda começava muito cedo,pela manhã eu pedia para os peões um cavalo encilhado e ia explorar o campo com os cachorros,coisa que eu adorava.
Foi no dia do casamento de uma de minhas primas que mataram uma vaca para a festa,graças a Deus eu nada ouvi ... No outro dia após o casamento bem cedinho escutei uns mugidos em coro,logo fui olhar procurando o que era... E vejo a carcaça da vaca que tinham matado... Longe da casa mas perto o bastante para eu enxergar...A carcaça rodeada de outras vacas todas mugindo... O mugido começava com elas de cabeça baixa,depois levantando aos poucos terminando o mugido olhando para cima (como se olhassem para o céu!) Quando vi aquela atitude fiquei perplexa,pois entendi imediatamente que elas estavam fazendo um pranteado pela vaca morta...
E assim continuou...Todos os dias ao entardecer vinham mais umas e os mugidos continuavam,durante este tempo nunca deixaram a carcaça sozinha... Isso foi... até eu tirar a carcaça dali para elas esquecerem ... Claro que eu fui no primeiro dia do acontecido falar para minha tia e primas,mas para elas aquilo não deveria ser importante...Pois simplesmente elas nem ligaram... Com certeza já estavam acostumada...
O pior para mim foi enxergar a tristeza no olhar das vacas e escutar o seu mugido lamento... Se vacas tinham sentimento...Eu também...Depois dizem que os animais não pensam...
Sei que isso desde aquele dia foi marcante para mim...Nem seres humanos fazem um pranteado tão longo...Pois não era somente uma vaca...Eram todas a chorar...
Por seres humanos choram mães,choram pais,choram filhos,choram irmãos...Mas todos?
Depois soube que as vacas faziam sempre assim...Comer carne de gado? Não muito obrigada! É só a cena lembrar,e fica tudo trancado...
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